Tecnologias para produção de SAF (combustível sustentável de aviação) e hidrogênio verde foram discutidas nesta semana pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) no 3º Congresso da RBQAV – Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Renováveis para Aviação.
O Instituto é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) para energia eólica, solar e sustentabilidade, e está à frente de projetos pioneiros na área. O Congresso foi realizado entre os dias 17 e 19 de junho em Foz do Iguaçu/PR.
“O que nós destacamos no evento foi a grande vantagem da tecnologia Fischer-Tropsch para a produção do combustível, uma vez que trabalhamos com uma variedade enorme de matérias primas”, disse a pesquisadora e coordenadora do projeto de desenvolvimento de SAF no Instituto, Fabiola Correia. “Isso é importante porque temos esse perfil no nosso país, uma abundância de matéria prima e diversos tipos”, complementa.
Ela participou da programação do Congresso na mesa redonda “Produção de SAF por FT”, quando abordou aspectos técnicos da produção desse combustível pela rota Fischer-Tropsch – processo químico utilizado na primeira planta piloto do Brasil para produção de hidrogênio e combustíveis avançados, instalada desde 2023 no Instituto.
O projeto de desenvolvimento de SAF, na planta-piloto do ISI, tem, entre os principais objetivos, chegar a um combustível que ajude a reduzir as emissões de gases do efeito estufa no transporte aéreo brasileiro.
Fabíola é mestre e doutora em Engenharia de Petróleo, além de pós-doutora em tecnologias de captura de CO2 pela Universidade de Sherbrooke, no Canadá. A mesa teve mediação do Projeto H2 Brasil, por meio da agência de cooperação alemã Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.
Tecnologia
A pesquisadora abordou na apresentação questões relacionadas à recirculação química e à Reverse Water Gas Shift Reaction (reação de deslocamento gás-água reversa), linhas que o laboratório está trabalhando.
“Na recirculação química a gente trabalha com matérias-primas gerais, como glicerina e gás natural. E o Water Gas Shift é com a conversão do CO2 capturado do ar. A gente pega o hidrogênio verde, mais o CO2 capturado do ar, e converte em gás de síntese, que é para ir para o Fischer-Tropsch”.
Essas tecnologias, explica a pesquisadora, têm como grande vantagem a descarbonização – termo usado para o processo de redução de emissões de carbono na atmosfera, especialmente de dióxido de carbono (CO2), o mais abundante gás do efeito estufa. “O hidrogênio verde é um insumo limpo e o CO2 capturado do ar auxilia na descarbonização”, diz Fabíola, destacando a importância de discussões sobre esse tipo de tecnologia, neste momento.
“Essas são tecnologias promissoras para produção do SAF. O Fischer-Tropsch tem a maturidade industrial alta e um grande leque de matérias-primas que pode ser utilizado. Ele é como um passo à frente, por já ter uma escala de maturidade dentro da produção industrial e também por essa versatilidade, porque o SAF vai ser produzido por diversas rotas e por diversas matérias-primas, para atender toda a demanda que existe”, complementa a pesquisadora.
Estudos
Pesquisas pioneiras no Brasil relacionadas a combustíveis sustentáveis são desenvolvidas no Laboratório de Sustentabilidade do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), que reúne o grupo de pesquisa mais antigo do SENAI do Rio Grande do Norte. São mais de 10 anos de estudos e execução de projetos envolvendo rotas alternativas de produção de hidrogênio – aquelas que não geram emissão de carbono no processo industrial.
Em um dos atuais, o hidrogênio é um dos insumos para a produção de SAF (combustível sustentável de aviação). Em outro, são mapeados aspectos como gargalos tecnológicos, potenciais de produção e mercado.
Trabalhos na área também incluem o desenvolvimento de pesquisas em produção e distribuição de hidrogênio renovável, além do desenvolvimento de modelos matemáticos para avaliações econômicas dos recursos e otimização da logística de produção e distribuição do produto.
SOBRE O ISI-ER
O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) com foco em energia eólica, solar e sustentabilidade, incluindo novas tecnologias como o hidrogênio verde.
Faz parte da maior rede privada de institutos de pesquisa, desenvolvimento e inovação criada no Brasil para atender as demandas da indústria, composta por 26 Institutos SENAI de Inovação.
A Rede tem como foco a pesquisa aplicada, o emprego do conhecimento de forma prática no desenvolvimento de novos produtos e soluções customizadas para as empresas ou de ideias que geram oportunidades de negócios. Desde que foi criada, em 2013, mais de R$ 1,2 bilhão foram mobilizados em projetos de PD&I.
O ISI-ER está em operação no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN, em Natal, no Rio Grande do Norte, desde 2018. A instituição herdou integralmente atividades de pesquisa aplicada realizadas pelo SENAI-RN, que desde 2002 atua nesse campo e na prestação de serviços para os setores de gás e energia, com diversas empresas privadas e estatais de grande porte, do Brasil e do mundo, e com entidades governamentais.
Na sua trajetória, o Instituto tem construído caminhos que contribuem para o progresso tecnológico do país e a sustentabilidade, com o avanço das energias renováveis e de inovações necessárias para a transição energética.
Pesquisadores/as do ISI foram pioneiros/as em estudos, com medições, sobre o offshore brasileiro, desenvolveram projetos como o novo Atlas Eólico e Solar do Rio Grande do Norte e estão à frente de iniciativas como o mais abrangente mapeamento em desenvolvimento no Brasil para identificar o potencial de geração de energia eólica com turbinas implantadas no mar, em convênio com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), e de trabalhos como o desenvolvimento de SAF (combustível sustentável de aviação), em parceria com a Alemanha.
Texto: Renata Moura
Fotos: Divulgação