Um estudo da GIZ, empresa do governo alemão que executa projetos de cooperação técnica focados em desenvolvimento sustentável, revelou este ano que as mulheres representam 20% da força de trabalho empregada em parques eólicos no Brasil e que a participação delas no setor tende ao crescimento. “Doses extras de esforço”, entretanto, serão necessárias em todos os elos da cadeia produtiva para que a evolução ocorra e seja efetivamente percebida em campo.
A opinião foi defendida na última quinta-feira (11) no painel “Diversidade e inclusão na Operação e Manutenção de Parques Eólicos”, do Brazil Windpower 2021, com a assessora de Projetos e Mercado do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Rio Grande do Norte (SENAI-RN), Amora Vieira, entre as debatedoras.
A conferência, uma das principais do setor no país e na América Latina, é promovida pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) em conjunto com o Global Wind Energy Council (GWEC) e o Grupo CanalEnergia.
O tamanho do desafio
Durante o painel, realizado de forma online, a assessora do SENAI-RN apresentou as estratégias da instituição para aumentar a diversidade dentro das salas de aula físicas e também virtuais, que recebem estudantes do Rio Grande do Norte – líder nacional em geração eólica – e de diversos outros estados.
Levantamento do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), uma das cinco unidades no SENAI-RN e referência no Brasil em formação profissional na área, aponta que as mulheres correspondem a pouco mais de 10% das matrículas nos cursos de energia eólica. A participação é mais que o dobro da registrada em 2015 – primeiro ano da série histórica com a presença feminina nesses cursos – mas, segundo Vieira, pode e deve avançar mais.
“Olha o tamanho do desafio que o SENAI tem aqui”, observou ela. “Nós vivemos um momento de reflexões. Alguns insights dos últimos anos nos fizeram refletir. O que está acontecendo no mercado?. Chamamos o time para juntar esse quebra cabeça, entender qual é esse movimento que o SENAI tem que estar junto, e chegamos à conclusão que o SENAI precisa se reposicionar. E é isso o que estamos fazendo agora”, acrescentou, afirmando que a inquietação sobre o tema existe dentro dos muros da instituição, mas também chega de fora.
A demanda, explicou ela, já se manifesta por cursos específicos voltados à formação de mulheres para o trabalho no setor e os caminhos para atrai-las – e estimular a igualdade em sala de aula – já começaram a ser trilhados.
Ações
“Paramos para pensar. O que temos que entregar ao mercado? Como apresentar o SENAI como uma instituição que pode estar junto, contribuindo para a formação profissional nessa ideia da diversidade e da inclusão?”, disse Vieira.
Entre as ações já empreendidas, ela destacou o vídeo Mulheres de Energia, idealizado e produzido com a GIZ no início da pandemia para incentivar meninas e adolescentes a seguirem profissões na área de energias renováveis (Clique aqui para assistir). Também citou a live “Indústria, energias renováveis e os Objetivos que podem transformar o mundo”, promovida em setembro em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) como parte de um plano de ação do Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN para disseminar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) na cultura das instituições que compõem o Complexo, em Natal, e gerar reflexões e debate também fora dos seus muros.
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estão na chamada “Agenda 2030” da ONU, um conjunto de 17 Objetivos a serem atingidos até o ano 2030 – e que buscam, de forma geral, acabar com a pobreza, reduzir desigualdades, fomentar a educação de qualidade e combater as mudanças climáticas no mundo.
Educação
“Nós vivemos um momento de aprendizado, estamos em um momento de construção. De tomar cuidado com as palavras, de entender conceitos. No caso dos ODS nos perguntamos como a entrega da educação se encaixa nos Objetivos. A gente trouxe a reflexão. Entrando no nosso prédio hoje tem um painel na entrada (com esses Objetivos). É o caminho, o que tenho que internalizar, trazer para a equipe”, disse a assessora.
O trabalho, segundo ela, tem sido pensado de forma abrangente. “Pensando no aluno em sala de aula, na conduta do professor instrutor, em como tratar situações que acontecem no cotidiano e que às vezes não estamos preparados para dar resposta. Como a gente se reposiciona na fala, no discurso, como trabalha, por exemplo, situações de falta de respeito, o comentário pejorativo sobre a mulher?”.
Além de Amora, o painel teve como debatedoras Andréa Santoro, coordenadora de Sustentabilidade da AES Brasil, e Dorothea Guimarães, gerente de Planejamento da Siemens-Gamesa, apresentando ações das companhias para incluir e fortalecer mais mulheres e outras populações que tradicionalmente ficam à margem no mercado. A moderação ficou com Josy Alves, da Energizar Consultoria.
Em comum, as participantes defenderam a importância das grandes marcas se posicionarem, de mostrarem a relevância do tema, e também de adotarem medidas práticas que signifiquem oportunidades iguais de fala, de estudo e formação, além de ambientes de trabalho que possibilitem a inclusão de todas as pessoas, no caso das mulheres, com a disponibilização desde Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e lugar para amamentação, para as colaboradoras mães, até campanhas que eliminem estereótipos.
No SENAI, reforçou Amora, o processo já começou. “A gente começou a abrir os horizontes para trazer soluções. Estamos tratando essa evolução”.