*Nota editorial: os porta-vozes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e SESI (Serviço Social da Indústria) foram entrevistados para edição de outubro da Revista da Indústria, publicada originalmente em 31/10/2023, por isso os cargos refletem a organização do Sistema Indústria até esta data.
Na última década, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) liderou esforços para consolidar uma política industrial no Brasil, passo crucial rumo à reindustrialização. O Plano de Retomada da Indústria, apresentado em maio pela entidade ao governo federal, tornou-se o principal marco dessa jornada. Essa é a opinião de especialistas, representantes de indústrias e membros do governo.
De acordo com Paulo Camillo Penna, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) e da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), a CNI teve papel estratégico ao propor uma política industrial para o Brasil que fosse efetiva e que olhasse para os desafios atuais. “Nos últimos anos, houve o que se denominou desindustrialização, e o Plano de Retomada vem para corrigir essa lacuna, não só estabelecendo programas e projetos, mas também enfrentando questões atuais, como as mudanças climáticas”, pontua.
O professor de Economia Júlio Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), concorda: “Nós ficamos sem política industrial durante muito tempo e isso fez um mal muito grande para o setor. Mas a CNI, coordenada pelo seu presidente, Robson Braga de Andrade, fez um movimento importante para ter de volta uma política industrial para o Brasil”.
O diretor do IEDI afirma que um aspecto fundamental da construção dessa política foi o fato de a CNI ter conseguido unir o setor produtivo. “[Ela] reuniu federações, sindicatos e associações empresariais; deu a todos os atores condições de participar do debate”, resume, ressaltando que a criação do Fórum Nacional da Indústria (FNI) é um grande legado da gestão atual da entidade. “O FNI representa isto: todos sentados juntos numa grande mesa”, define.
O Plano de Retomada da Indústria foi proposto com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento econômico do Brasil por meio de uma política industrial moderna, focada na necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e na disseminação das tecnologias digitais. Ele se estrutura em quatro missões estratégicas: descarbonização, transformação digital, saúde e segurança sanitária e defesa e segurança nacional, com 60 ações distribuídas em nove áreas, incluindo tributação, financiamento, comércio internacional e infraestrutura.
Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), também faz coro no sentido de que a CNI foi a grande responsável por colocar na agenda a necessidade de recuperar uma política industrial e destaca o fato de a instituição ter conseguido coordenar propostas de médio e longo prazos. “Ter uma política industrial foi, por um bom tempo, demonizado, mas a CNI conseguiu articular uma política junto com um programa de desenvolvimento de médio e longo prazos, e isso foi fundamental”, avalia.
Dessa forma, segundo ele, a entidade trouxe discussões sobre tudo o que afeta o desenvolvimento da indústria e a forma de tratar os incentivos, sejam de natureza creditícia ou financeira. “As propostas foram articuladas com os limites do endividamento público e com critérios claros de metas e prazos para segmentos específicos, além da identificação de novos segmentos, como os que estão nas missões do plano”, detalha.