A Petrobras e o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) lançaram, oficialmente, o projeto da primeira planta-piloto da companhia para produção de hidrogênio renovável.
O desenvolvimento da unidade terá início nesta semana na Usina Termelétrica do Vale do Açu (Termoaçu), no município de Alto do Rodrigues, no Rio Grande do Norte, com o objetivo de possibilitar testes sobre a tecnologia, o que inclui, além da produção, possíveis modelos de negócio e potenciais usos.
A largada da operação está programada para 2026. O lançamento oficial, com a apresentação, pela primeira vez, dos detalhes do projeto, foi realizado nesta terça-feira (12), na sede do governo do estado.
O hidrogênio renovável foi citado pela Petrobras como estratégico para descarbonizar suas operações em áreas como o refino e também para o desenvolvimento de novos produtos.
A companhia é a maior consumidora nacional de hidrogênio cinza, produzido a partir do gás natural – para o qual o produto renovável, produzido com água e fontes de energia como a eólica e a solar, é considerado alternativa.
Estratégia
“O hidrogênio está no centro da estratégia da Petrobras. Além disso, está no centro da estratégia de transição energética. Ele é um pouco o elo de tudo o que a gente faz. E é fundamental no processo de refino para produzir, por exemplo, o SAF (combustível sustentável de aviação) e o diesel R, o diesel com conteúdo renovável”, disse o diretor de Transição Energética da empresa, Maurício Tolmasquim.
“A gente usa o hidrogênio no nosso refino e vê um grande potencial para substituí-lo por hidrogênio verde”, acrescentou o executivo, citando uma série de condições favoráveis que pesaram, segundo ele, para a escolha do Rio Grande do Norte como sede do projeto.
“A decisão de fazer aqui foi técnica, mas as condições favoráveis do estado foram um motivador a mais. Há um ambiente propício aos investimentos. O Rio Grande do Norte é um dos líderes na produção de energia eólica. Também temos aqui essa termelétrica, que tem acesso à água, a uma subestação, e temos o SENAI, com quem temos uma parceria enorme, que ajuda a gente a fazer esses projetos”, complementou ele.
Segundo Tolmasquim, a planta-piloto é o início de um processo que poderá tornar o Brasil um grande produtor de hidrogênio.
O hidrogênio renovável será produzido a partir de eletrólise, um processo físico-químico que utiliza a energia de fontes renováveis, como eólica e solar, para separação do hidrogênio da água.
O diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, Rodrigo Mello, observa que o projeto da planta-piloto vem sendo discutido e trabalhado pelos times do SENAI e da Petrobras há pelo menos dois anos. O projeto tem duração prevista de três anos e aporte de R$90 milhões.
Competitividade
Estudos do Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e do ISI-ER, segundo ele, apontam o Rio Grande do Norte entre os lugares mais competitivos do Brasil para o desenvolvimento da cadeia produtiva do hidrogênio.
“Além de ser um dos poucos locais do Brasil com excedente de energia renovável, o Rio Grande do Norte tem acesso até a planta por estrada de boa qualidade, tem a maior usina de desmineralização de água do mundo, para abastecer o maior vaporduto do mundo, e uma subestação com capacidade de escoamento da energia a partir de lá, tudo dentro de um ativo Petrobras”, disse ele.
“Quando você junta tudo isso, você chega à conclusão que este é o melhor ponto do Brasil para se instalar uma planta-piloto. E essa planta vai trazer para o estado, de novo, o pioneirismo não só na cadeia de mais uma atividade de energia renovável, mas a vanguarda na geração de tecnologia aplicada através desse investimento da Petrobras, através do nosso ICT (Instituto de Ciência e Tecnologia), o ISI-ER”, frisou ainda.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Francisco Vilmar Pereira, também destacou a importância da iniciativa. “Esse é um projeto inovador, a nível nacional, e com grande relevância no contexto da transição energética”, disse Pereira. “O Rio Grande do Norte está correndo na frente e o SENAI está pronto para atender a demanda do projeto”.
Ao apresentar os detalhes da planta-piloto, Lilian Melo, gerente executiva do Cenpes – centro de pesquisas e inovação da Petrobras – ressaltou o histórico do Rio Grande do Norte como sede de projetos pioneiros da companhia no Brasil, incluindo a primeira plataforma desabitada com suprimento solar, no começo dos anos 2000, a primeira usina eólica da Petrobras, em 2003, as primeiras refinarias de biocombustível da empresa e as duas primeiras plantas-piloto do Cenpes, em 2008.
Segundo a executiva, a expectativa com o novo projeto é fazer uma avaliação em toda a cadeia de hidrogênio de baixo carbono, passando por produção, novos produtos, e-fuels (e-combustíveis), infraestrutura, até a exploração de hidrogênio natural.
“Em relação à produção, a gente pode falar da própria eletrólise, mas também da conversão que a gente tem proposta para fazer nas UGHs – Unidades de Geração de Hidrogênio – das nossas refinarias, usando o hidrogênio como uma das nossas fontes”, disse Lilian. “Então vamos analisar também como esse hidrogênio vai se comportar dentro da infraestrutura existente”.
Novos usos voltados à mobilidade, ou seja, ter transportes à base de hidrogênio, combustíveis feitos pela conversão de CO2 (Dióxido de Carbono), como e-metanol (para embarcações) e a exploração geológica do hidrogênio também estão entre os caminhos vislumbrados.
“Vemos grandes oportunidades através do hidrogênio, tanto de descarbonizar as nossas operações com essas novas tecnologias quanto também para desenvolver novos produtos, seja para mobilidade, seja para energias limpas. Esse pode ser o grande elemento que a gente vai ter da nossa conexão com esse futuro da transição energética e a gente vai fazer isso através de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação), através de avaliação de toda a cadeia de valor”, disse Lilian.
“E as diversas análises que a gente vai fazer terão uma contribuição muito importante através dessa planta-piloto, em que vamos conseguir avaliar modelos de negócios para o hidrogênio renovável, avaliando tanto a mistura de hidrogênio de gás natural – como essa composição se comporta – o impacto da intermitência das energias renováveis na planta, entre outros pontos”, reforçou ainda.
Os resultados do estudos que serão realizados, de acordo com ela, poderão “potencializar inúmeros outros projetos não só da Petrobras, mas com várias parcerias, no que diz respeito ao uso do hidrogênio”.
O escopo do projeto inclui um eletrolisador PEM de 2 Megawatts (MW) – o maior em instalação no Brasil – além de 2 microturbinas de 200 Kilowatts (KW), cada, uma célula combustível e a duplicação da capacidade da usina fotovoltaica existente na Termoaçu, de 1,2 (MW) para 2,5 MW.
A geração de energia solar alimentará a unidade de geração e conversão de hidrogênio , onde o produto será obtido para alimentar, em seguida, as duas microturbinas e a célula a combustível.
“Estamos bastante animados com o que isso pode significar em termos de futuro. A gente está olhando para o futuro e o primeiro passo está sendo dado no RN”, frisou a gerente-executiva.
A governadora Fátima Bezerra citou a planta-piloto como “um passo histórico para o futuro do país e do estado”. “O projeto coloca o Brasil em destaque na corrida pela energia do futuro”, disse.
Texto: Renata Moura