As oportunidades de operação onshore (em terra) e o novo mercado de petróleo no Rio Grande do Norte, a partir da entrada de operadoras independentes na Bacia Potiguar, foram debatidos durante o “Circuito Brasil Óleo & Gás – Rio Grande do Norte”, neste segundo dia (23) do evento realizado de forma virtual. O mercado do estado vivencia a chegada de novos players na exploração dos campos maduros da Bacia Potiguar e a perspectiva de redução do preço da molécula do gás a partir da ampliação da produção no estado.
O Circuito, promovido pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP), em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo (ABPIP), Firjan e outras instituições, visa integrar os diferentes atores do mercado em torno de pautas fundamentais para o estado e país. A live foi apresentada pela diretora geral da ONIP e gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Karine Fragoso.
Na abertura, o presidente da ONIP, Eduardo Gouveia Vieira, destacou a liderança da indústria do petróleo norte-rio-grandense no que ele classificou de “o momento do novo onshore” no Brasil. “O momento é de oportunidade. O setor de petróleo e gás é fundamental para recuperação da economia do estado e do país, no período pós-pandemia. O estado tem vocação e expertise técnica e lidera o movimento do novo onshore, com duas dezenas de operadoras interessadas em exploração em terra firme. O RN pode liderar as mudanças para todo o país. O mercado onshore traz novas oportunidades”, concluiu Gouveia. Ele ainda destacou a necessidade de acompanhar o marco regulatório que tramita no Congresso.
Para Marcos Félix, vice-presidente executivo ONIP, o Rio Grande do Norte saiu na frente e caminha a passos largos na retomada das operações de exploração e produção de petróleo terrestre, servindo de exemplo para outros estados. “Os desinvestimentos da Petrobras resulta em novas oportunidades com uma nova visão. Mossoró, a capital onshore brasileira, tem uma nova responsabilidade no setor, além da sinergia com setores importantes como energias renováveis, fruticultura e turismo”, observa Félix.
O presidente do Sistema FIERN, Amaro de Araújo Sales, ressaltou a trajetória da indústria potiguar de petróleo no processo de transferência da exploração de campos maduros para a iniciativa privada. No ano passado, frente à decisão de desinvestimento da Petrobras e venda de ativos, a FIERN buscou a articulação com empresários e rede de fornecedores locais, entidades representativas, órgãos reguladores e o Ministério de Minas e Energia para tratar a restruturação do setor no estado.
O setor responde por 40% do PIB industrial do RN. E vem enfrentando dificuldades, lembrou o presidente da FIERN, com efeito direto na economia com a queda de produção e, consequentemente, de receita do estado. A produção terrestre que já chegou a atingir 117 mil barris/dia, nos últimos anos, declinou para 25 mil barris/dia.
“Em meio às dificuldades enfrentadas, o estado tem uma esperança de que a indústria de petróleo e gás renasça na economia. O setor faz parte da história e economia do Rio Grande do Norte, tendo ocupado o primeiro lugar em produção terrestre de petróleo e vendo o setor e a economia encolher. E, agora, o novo modelo, que enfrentou resistência a princípio com a saída da Petrobras, abre novas oportunidades com a venda dos campos maduros e as empresas, hoje, trazem a perspectiva de desenvolvimento regional”, avalia Amaro Sales.
As novas oportunidades vem com o Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Terra – REATE 2020, que busca avançar no desenvolvimento e implantação de uma política nacional que fortaleça a atividade em áreas terrestres no Brasil. A consolidação do REATE 2020 abre importantes perspectivas com potencial de produção de óleo e gás em terra para o estado e na construção de uma indústria de exploração e produção terrestre competitiva.
Amaro Sales também destacou o potencial de produção de gás, com capacidade de 300 mil m3, o que corresponde ao consumo das indústrias de vários setores que precisam do gás. E lembrou ainda os esforços do governo estadual para melhorar o licenciamento ambiental, dando maior celeridade aos processos.
Anabal Santos Júnior, presidente da ABPIP, ponderou que apesar da produção em terra ser antiga, a atividade é ainda pouco explorada no Brasil, apenas 5% das bacias. E apresenta baixa recuperação dos reservatórios – em torno de 22%. Em alguns lugares do mundo, essa recuperação varia entre 40% a 60%.
Com o novo modelo de abertura para as novas empresas operarem a exploração e a produção, o presidente da ABPIP lembra que a iniciativa privada, que já atuava na área como fornecedor ou prestador terceirizado, terá um ambiente mais favorável. “O petróleo é nosso também. Na maioria das vezes, o petroleiro é visto como só quem trabalha na Petrobras. Hoje, há mais petroleiros de fora da Petrobras, de empresas menores, terceirizadas. Essas empresas enfrentaram ambiente de desfavorável, monopolizado, com venda da produção abaixo do preço e que sofreu com a ausência do governo e do Estado”, disse Anabal Santos Júnior.
Para ele, a reestruturação do setor com a entrada de empresas privadas e de médio porte faz parte de uma política de continuidade e beneficia a geração de emprego com a chegada de novos empreendimentos, a partir da saída da Petrobras. Ele destacou também o potencial da região Nordeste e a importância da articulação a ser feita, a partir da Associação Nordeste Forte, que reúne as federações das indústrias da região e é presidida por Amaro Sales.
Nova fronteira e novos desafios
O novo modelo de produção e exploração de petróleo em campos terrestres com a transferência para empresas privadas, na avaliação do diretor superintendente do Sebrae no RN, José Ferreira de Melo Neto, se apresenta como uma nova fronteira de crescimento da economia e traz desafios para o Rio Grande do Norte. Ele lembrou que o Sebrae/RN participou da criação da Redepetro, promoveu feiras, missões internacionais e rodadas de negociação do setor, o processo de certificação e criou o Mossoró Oil&Gas.
“Nos orgulhamos de participar do Reate 2020, redenção para a nossa economia. Mas temos desafios pela frente, com a readequação do modelo de prestação de serviços. Hoje, temos um polo de serviços industriais avançado em petróleo e gás, que precisa se adaptar a projetos e contratos, que antes eram de longo e médio prazos, e que passam a ser de curtíssimo prazos. Ter um modelo de prestação de serviço mais ágil e produtivo. O desafio de criar um polo de tecnologia e serviços que seja referência, com as duas universidades Ufersa e UERN, em Mossoró. E um terceiro desafio, a ser capitaneado pelo governo do estado, de instalação de novas indústrias para consolidar um polo de desenvolvimento regional”, pontua Zeca Melo.
Luis Felipe Coutinho, diretor da Petro+, empresa concessionária no Rio Grande do Norte, acredita que os investimentos em onshore vão melhorar a infraestrutura dos locais explorados e questiona como o marco regulatório dificulta a entrada dos independentes. Para Coutinho, é urgente consertar o limitador estatal que existe no país. O desafio, na avaliação do diretor da Petro+, é achar o ponto de equilíbrio e ter mais pragmatismo nas ações. “Quantos empregos estão deixando de ser gerados por não conseguir quebrar os limitadores? Não somos nós que somos reféns desse limitador, é a indústria brasileira. Queremos transformar a indústria brasileira em mais competitiva. Tenho esperança que possamos vencer esses limitadores, transformar e aproveitar as oportunidades. Quanto mais empresas surgirem o maior beneficiário será o onshore do Brasil. Mais empregos, mais arrecadação e mais desenvolvimento para o Brasil”, diz o diretor.
Sob a premissa de que as empresas que atuam na produção onshore precisam ser valorizadas, o senador Jean Paul Prattes disse que o papel que uma nova ONIP pode ter é a articulação e união das instituições. “É importante que FIERN, Sebrae, governos, empresas estejam aqui promovendo essa junção de interesses. Onde cada um ocupa seus espaços para se ter uma cadeia de petróleo e gás eficiente e competitiva”, disse. Segundo ele, o cenário brasileiro mudou por completo desde os anos 1980 e 1990, com a abertura de novas fronteiras. “Mudou a configuração. Hoje tem novos jogadores muito importantes nesse mercado incluindo o Brasil. O petróleo não vai acabar, o cenário vai mudar”, afirma Prattes, que enfatizou a importância da permanência da Petrobras no Rio Grande do Norte e questionou o papel da empresa com a saída de algumas regiões.
A revitalização de campos maduros foi abordada pelo CEO da 3R Petroleum, Ricardo Savini. A empresa, que ganhou a compra do Pólo Macau, na Bacia Potiguar, é operadora de campos de petróleo com foco e expertise na revitalização. “Pretendemos dinamizar. Começamos a produção em Macau, não tivemos perdas, tivemos, até agora, dois meses de produção e estamos em torno de 15% acima da produção da Petrobras. Resolver, revitalizar, repensar campos maduros esses são os três ‘erres’. Criar uma segunda onda de petróleo criando uma nova onda”, afirma Savini. A empresa iniciou as atividades em maio e planeja ampliar e contratar mais pessoal, promovendo a geração de emprega e renda na região. “Fomos muito bem recebidos. Nós viemos fazer coisas diferentes, com uma equipe enxuta. No futuro, poderemos ter muitos trabalhadores. Estamos entrando para produzir mais, para gerar mais reservas”, completa.
No dia 16 de julho, a Petrobras vendeu a totalidade da sua participação em dois campos de produção terrestres da Bacia Potiguar, Ponta do Mel e Redonda, localizados no município de Areia Branca, na região Oeste do estado -, para a Central Resources do Brasil Produção de Petróleo Ltda. Em uma operação que totalizou US$ 7,2 milhões. Segundo a Petrobras, a produção média de petróleo dos campos, no primeiro semestre de 2020, foi de cerca de 493 bbl/dia. E, no final de maio, a empresa havia concluído a venda de sua participação em outros sete campos de produção terrestres por R$ 676,8 milhões, localizados na Bacia Potiguar, que foram comprados pela SPE 3R Petroleum, subsidiária da 3R Petroleum e Participações.
Por Sara Vasconcelos e Jô Lopes, jornalistas Unicom/FIERN