“Quem poderia imaginar, 15, 20 anos atrás, que o laboratório mais avançado do país produzindo querosene sustentável de aviação estaria instalado em Natal, bem aqui na Cidade da Esperança?”, pergunta o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, ao apresentar a especialistas e estudantes, em Natal, “a lógica de funcionar” e o peso das soluções que chegam ao Brasil a partir do Instituto.
O assunto integrou a programação da Mesa Redonda “Atores do Ecossistema local: Pontos fortes do RN – O que temos e onde queremos chegar”, no Primeiro Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação do RN, realizado na Casa da Indústria. O evento foi promovido pelo governo do estado, por meio da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, com co-realização da Federação das Indústrias (FIERN) e de outras instituições públicas e privadas locais.
Inovações
Projetos como o desenvolvimento de combustível à base de glicerina, que busca reduzir as emissões de gases do efeito estufa do transporte aéreo brasileiro, foram citados por Mello na lista de “feitos” que saíram da instituição.
“Todos os projetos que realizamos, ao final, geram um produto ou processo melhorado ou melhorador na vertical de energia e nas atividades de transição energética, com uso de energia renovável, buscando a descarbonização”, explicou ele.
“A primeira boia meteoceanográfica da América Latina, genuinamente brasileira”, desenvolvida para a Petrobras, o Atlas Eólico e Solar – que mostra, com dados medidos e em constante atualização, as áreas mais promissoras para investimentos no setor em território potiguar – e o estudo “Avaliação de estratégias locacionais para o desenvolvimento de infraestruturas de transmissão de energia no suporte ao setor eólico offshore do estado do Rio Grande do Norte”, que aponta as 11 melhores áreas para escoamento da energia eólica offshore no RN e poderá ser base de lei no estado, também foram acrescentados à relação de inovações.
Offshore
O Fórum foi realizado no mesmo dia em que a boia meteoceanográfica citada pelo executivo foi lançada no mar, no município de Areia Branca. O projeto, oficialmente chamado de “BRAVO – Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore”, deverá viabilizar “maior cobertura de medição do potencial eólico do litoral brasileiro com custo menor e prazo compatível com a ambição da Petrobras”, segundo análise da companhia.
O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da empresa, Maurício Tolmasquim, reforçou, na data do lançamento, que quando estiver em estágio comercial, a BRAVO contribuirá para o aumento da oferta dos serviços e a redução do custo de implantação dos projetos de eólica offshore no país.
“A gente, na Petrobras, está muito engajado com o tema da transição energética. A gente enxerga o Rio Grande do Norte como um dos protagonistas dessa mudança no país. E tem olhado o ecossistema do estado de uma forma muito pródiga – enxergando que o estado consegue de fato entregar muito”, disse, no Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação do RN, o gerente geral de Pesquisa e Desenvolvimento para Downstream, Midstream e Sustentabilidade, da Petrobras, Antonio Vicente de Castro, evocando mais uma vez o projeto.
“A gente colocou no mar a segunda versão dessa boia de medição de recurso eólico no estado. Uma boia que tem um potencial muito grande de diminuir o lead time (o tempo de espera) no Brasil, e para aumentar a quantidade de medição”, disse ele, acrescentando: “Então, nesse sentido, a gente tem caminhado para esse conteúdo de transição energética, vendo também o estado com potencial muito grande para energia solar e, na área de hidrogênio verde, pelo potencial elétrico renovável, com conversas já iniciadas tanto com o SENAI quanto com outras instituições para conseguir fazer projetos de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) aqui dentro”.
A Mesa Redonda também teve participação da UFRN, do IFRN, da UFERSA, da UERN, do SEBRAE, do Instituto Metrópole Digital (IMD), do Instituto Santos Dumont (ISD), do Parque Científico e Tecnológico Augusto Severo – PAX , e da Agência Espacial Brasileira. A mediação foi conduzida pela professora Angela Maria Paiva Cruz, ex-reitora da UFRN e presidente do conselho Administração do PAX.
Desafios
Desafios do Rio Grande do Norte, como o fortalecimento de conexões entre os atores do ecossistema e o setor produtivo, a ampliação da competitividade na área e a busca de mais recursos para investimentos em ciência, tecnologia e inovação foram destacados no evento pelo diretor de Inovação da FIERN e presidente da Comissão Temática de Inovação, Ciência e Tecnologia (COINCITEC) da Federação, Djalma Barbosa da Cunha Júnior.
A partir de um diagnóstico realizado pela Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), com mapeamento de todo o ecossistema de inovação nacional, ele ressaltou a necessidade de avanços do RN no ambiente de ciência, tecnologia e inovação – frente em que o estado ocupa o 14º lugar no ranking brasileiro e o quarto em território nordestino. “Quando a gente fala no Nordeste a gente perde para Pernambuco, Ceará e Bahia”, acrescentou.
“Em relação ao capital humano, estamos em 10º lugar. Nós temos grandes mestres, doutores, pós-doutores e precisamos melhorar cada vez mais essas conexões”, complementou o diretor. “Nós temos um estado rico em mineração, em pesca, no agronegócio, somos o maior produtor de sal marinho, somos muito fortes no turismo e temos a bola da vez, que são as energias renováveis. Mas só seremos mais fortes se estivermos juntos. E eu acredito piamente que se as conexões forem muito bem feitas nós teremos grandes resultados”.
Barbosa ressaltou, nesse contexto, a importância da criação da COINCITEC em 2020, “com o propósito de juntar todos os atores do ecossistema, de trazê-los para perto”. A Comissão reúne, atualmente, 11 setores produtivos.
Texto: Renata Moura