“Não existe caminho fácil. Não existe caminho simples. Tudo é uma construção no dia a dia. É a construção da pequena ação”, diz o técnico e engenheiro mecânico Maycon de Souza Silva, 35, ao narrar a própria trajetória diante de dezenas de olhos e ouvidos atentos, em Natal.
Há aproximadamente três anos gerente da Service Construction Academy Latam da Vestas, na capital – o Centro Regional de Treinamento da empresa dinamarquesa, líder global em soluções de energia eólica – ele compartilhou, com instrutores/as de educação e tecnologias do SENAI, os caminhos que o levaram das primeiras conquistas profissionais à posição que ocupa em uma gigante da indústria.
Silva está entre os milhões de profissionais formados pelo SENAI no Brasil. A palestra “O impacto de pequenas ações”, que ministrou para as equipes de educação do SENAI CTGAS-ER, do SENAI Moda, do SENAI Alimentos e do SENAI Construção Civil, encerrou quinta-feira (23) o Encontro Pedagógico dos Centros – evento que abre o início dos trabalhos neste ano.
Educação
“Eu estou aqui para contar como o SENAI transformou a minha vida”, disse ele durante a apresentação. “Ainda lembro de lições que aprendi no meu primeiro dia de aula”, frisou.
O executivo nasceu em Minas Gerais. Vendeu picolés nas ruas, trabalhou como office boy e foi aprendiz mecânico.
Cresceu em uma cidade pequena, com a economia baseada na indústria moveleira. “Onde ou você trabalha no setor, ou não trabalha”.
No ambiente familiar, ele foi incentivado pela mãe a estudar e também a ter uma profissão.
“O foco principal”, disse Silva, “era sempre estudar”. “A minha mãe sempre nos desafiou a estudar. Isso era inegociável. Mas ela também nos desafiou a ter uma carreira profissional. Ela não queria ter um filho dentro de casa sem um ofício”.
Em 2004, concluindo o Ensino Médio, ele iniciou uma jornada de formações, dentro do SENAI. O caminho incluiu aprendizagem e áreas como eletromecânica, eletro hidráulica e curso técnico.
“Eu escolhi o caminho da mecânica porque o meu irmão fez aprendizagem em elétrica e eu não queria fazer o mesmo curso que ele”, lembrou com um sorriso.
“Então comecei como aprendiz mecânico e me lembro muito bem do primeiro dia de aula no SENAI e do quão é importante a orientação de vocês, como instrutores”.
Desafios
O instrutor responsável pela turma em que havia ingressado, lembra, fez uma provocação que jamais esqueceria: “Vocês estão preparados para serem homens de manutenção?”.
“Ele explicou que o homem de manutenção trabalha quando todo mundo está descansando. E no que isso ajudou na minha carreira? Ajudou a calibrar, na minha cabeça, a minha expectativa. Calibrou pra mim, mais para frente, quando eu tinha que virar 24 horas em um turno, quando tinha que trabalhar à noite, no Natal e Ano Novo e eu sempre me recordava ‘fui eu que aceitei essa profissão’”. “As dicas que o SENAI me deu nesse caminho me levaram para o primeiro emprego na área”, disse, indo além na história.
Silva conta que, em 2008, conciliou o serviço militar com um curso técnico. “Foi um período de muitos desafios, em que acordava às 4h da manhã para ir para o Exército, trabalhava e ia para aula à noite. Fazia esse trajeto de bicicleta. Chegava em casa à meia-noite, jantava, dormia e, no dia seguinte, começava tudo de novo”.
“Foi um período”, disse ele, “em que, em alguns momentos, quis desistir”. “Eu lembro de ter dito a um professor, que também era do SENAI, que para mim não dava mais…e que ele disse ‘não desiste’, me contou a história dele e eu pensei ‘vou continuar’”.
“O ambiente do SENAI”, observou Silva, “é um ambiente onde há oportunidades. Onde as oportunidades estão aí para todos. E cabe ao aluno ter a percepção de qual oportunidade ele vai pegar”.
A primeira entrevista que fez, para uma vaga de trainee técnico, foi buscada ao ver um folder no SENAI, divulgando a oportunidade. A função seria exercida em uma indústria de cimentos, situada a mais de 400 km da terra natal.
“Eu nunca tinha andado de ônibus fora da minha cidade. Tive que aprender, para fazer a primeira entrevista da minha vida em uma empresa nacional de grande porte. Eu não sabia nem a roupa que deveria usar”. As orientações que precisava, lembra ele, foram conseguidas no SENAI.
“Se comporte assim, a roupa mais adequada é essa, porque é uma função técnica, não seja uma pessoa que sabe tudo, tenha paciência”, foram algumas das instruções que ouviu na época.
“O SENAI conseguiu me preparar para o mercado. Me ajudou nessa caminhada e não só em caráter técnico”, disse ele, relembrando aprendizados também em áreas como estratégias de produção, processos e qualidade, como fazer mais com menos e como se comportar”, que fizeram a diferença. “Isso me trouxe uma visão de mundo que eu não tinha”.
As lições e a vaga conquistada na época, na visão dele, foram decisivas para que, a partir de então, a carreira deslanchasse, primeiro na indústria de cimentos e, depois, no setor eólico – onde também já atuou como técnico e especialista em grandes componentes.
A formação técnica, complementou, também foi fundamental para que chegasse ao ensino superior. “Eu só tive condição de iniciar minha faculdade porque tive minha base no SENAI. E os instrutores que passaram pela minha vida me deram o aconselhamento necessário para que eu pudesse galgar as vitórias que consegui”, frisou ele, hoje também pós-graduado em gestão de pessoas.
O executivo ressaltou a importância do trabalho do/a instrutor/a no dia a dia. O detalhe, a conversa e outros incentivos que nem sempre envolvem a nota do/a aluno/a, disse ele, podem fazer toda a diferença. “É uma avaliação que não se consegue mensurar”.
Encontro
O Encontro Pedagógico do SENAI em Natal reuniu instrutores/as e equipes pedagógicas do CTGAS-ER, do SENAI Moda, do SENAI Alimentos e do SENAI Construção Civil.
O objetivo foi fazer o planejamento e o detalhamento de ações do ano na área de educação, em um contexto de renovação de compromissos da equipe e, ainda, de reflexões coletivas para a evolução da qualidade do trabalho, disse o diretor regional do SENAI-RN, Rodrigo Mello.
A programação foi realizada na semana que antecede o reinício das aulas, marcado para a próxima segunda-feira, 27 de janeiro. As atividades incluíram oficinas, palestras e grupos de estudos.
No encerramento, nesta quinta-feira, a diretora dos Centros de Educação e Tecnologias do SENAI na capital, Amora Vieira, disse que a expectativa é “ampliar cada vez mais o protagonismo da educação do SENAI, no Rio Grande do Norte e no Brasil”.
Reconhecimento
Instrutores/as e supervisoras de áreas de formação profissional que participaram do Sistema de Avaliação da Educação Profissional (SAEP) em 2023.2 e 2024.1 – períodos contemplados na edição mais recente – receberam troféus, na ocasião, em alusão aos resultados obtidos. “Essa é uma homenagem às áreas que tiveram provas aplicadas”, disse Daniel Lima de Oliveira, instrutor que coordenou a avaliação no estado.
O SAEP mede o desempenho de estudantes de cursos técnicos do SENAI de todo o Brasil, analisando a qualidade do aprendizado dos/as alunos/as através da aplicação de provas teóricas e práticas ao final de cada curso.
No Rio Grande do Norte, o desempenho ficou acima da média nacional. O Idap – indicador de desempenho calculado a partir do conjunto das avaliações – mostra que a nota do estado chegou a 7,9 em 2024, ante 7,4 do ano anterior.
O patamar, acima da meta estabelecida para o período (7,6) e da média nacional, de 7,8, catapultou o SENAI-RN da 17ª para a 11ª posição entre as 27 unidades da federação com Centros de Educação do SENAI. O indicador varia de 0 a 10. Quanto maior, melhor a qualidade dos cursos oferecidos.
Ao todo, 566 estudantes do SENAI do Rio Grande do Norte responderam a provas objetivas e a questionários contextuais no processo de avaliação teórica. As provas práticas contaram com 342 participantes.
Texto e fotos: Renata Moura