Aumentar Selic é medida excessiva para controlar a inflação e prejudica crescimento econômico

18/09/2024   11h11

Eventual alta da Selic colocará o Brasil na contramão do que outros países vêm fazendo, que é a redução das taxas de juros. Decisão do Copom será divulgada nesta quarta-feira (18)

Foto de baixo do Banco Central em Brasília

 

 

Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que um eventual aumento da taxa básica de juros seria uma medida excessiva para controlar a inflação e prejudicaria o crescimento econômico. Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai decidir o patamar da Selic, atualmente em 10,5% ao ano. Para a CNI, a elevação da taxa de juros seria um equívoco, refletindo excesso de conservadorismo do BCB.

 

 

O presidente da CNI, Ricardo Alban, lembra que outros países vêm diminuindo as taxas de juros e que o Brasil tem a oportunidade de ajustar a Selic para baixo, sem diminuir o diferencial de juros em relação às economias mais desenvolvidas, especialmente os Estados Unidos, o que evitaria pressão sobre a taxa de câmbio e a inflação.

 

 


“Os cenários econômicos, atual e prospectivo, principalmente de inflação, mostram que um aumento da Selic seria equivocado e um excesso de conservadorismo da autoridade monetária, com consequências negativas e desnecessárias para a atividade econômica. Além disso, colocaria o Brasil na contramão do que o mundo está fazendo nesse momento, que é a redução das taxas de juros”, afirma Ricardo Alban.

 


Inflação sob controle não justifica alta da Selic

A CNI aponta que o último resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,02%, ficando abaixo das expectativas capturadas pelo Relatório Focus do BCB, que projetavam alta de 0,02%. Com isso, a inflação acumulada nos últimos 12 meses caiu de 4,5%, em julho, para 4,24%, em agosto, abaixo do teto da meta de inflação para 2024, que é de 4,5%, e abaixo da inflação registrada em 2023, de 4,63%.

 

 

De acordo com a CNI, outro fato importante a ser considerado é a expectativa de inflação no horizonte relevante, aquele intervalo de 18 meses à frente, no qual o Banco Central se baseia para definir o nível da Selic. Esse ponto foi fortalecido pelo Decreto 12.079/2024, que passou a considerar que a meta será descumprida quando a inflação se desviar por 6 meses consecutivos da faixa do respectivo intervalo de tolerância – em vez de considerar apenas a inflação observada ao final do ano calendário.

 

 

Segundo a última previsão feita pelo próprio Banco Central, com um modelo que mantém fixa a Selic em 10,5% a.a., a inflação estaria em 3,2% ao final do horizonte relevante (de 18 meses à frente). Ou seja, apenas 0,2 ponto percentual acima da meta definia pelo Conselho Monetário Nacional, de 3%.

 

 

A CNI considera que esse pequeno desvio não justifica a elevação da taxa de juros, que está em patamar elevado há bastante tempo e ainda marca uma política monetária bastante contracionista, mais do que capaz de manter a inflação sob controle. A entidade pontua que a taxa de juros real do Brasil está acima da taxa de juros neutra – estimada pelo Banco Central – há 31 meses. Atualmente, a taxa de juros real é de 6,17% a.a., 1,42 p.p. acima da taxa de juros neutra.

 

 

Aumento prejudicaria recuperação da indústria de transformação e do investimento

Segundo a CNI, o aumento da Selic frustraria a recuperação da indústria de transformação e do investimento. No primeiro semestre de 2024, a indústria de transformação registrou alta de 1,9% frente ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, após acumular queda de 1,3% em 2023. Da mesma forma, no primeiro semestre de 2024, o investimento registrou alta de 5,6% frente ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, após acumular queda de 3% em 2023.

 

 

A alta da taxa de juros real também dificultaria a sustentabilidade das contas públicas, uma vez que cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros.

 

 

Na contramão do mundo

No cenário internacional, a CNI aponta que há uma clara tendência de afrouxamento dos juros, como nas economias centrais. Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) promoveu um segundo corte de juros, de 0,25 p.p., reduzindo a taxa para 3,5% a.a. Nos EUA, os dados referentes ao comportamento mais benigno da inflação, associados à desaceleração da geração de novos postos de trabalho, devem levar o Fed (Banco Central dos EUA) a iniciar o ciclo de flexibilização da taxa de juros norte-americana em sua próxima reunião, esta semana, com expectativa de mais um corte a ser realizado ainda em 2024.

 

 

“Todo esse contexto deixa claro que não é hora de o Banco Central subir a Selic, o que seria excessivo em termos de controle da inflação e apenas traria restrições adicionais ao crescimento econômico, se convertendo em menor bem-estar para a população. Pelo contrário, o foco deve ser a consolidação dos elementos capazes de pavimentar o caminho de retomada dos cortes na taxa de juros, para que ocorram o quanto antes, criando um ambiente mais favorável para a execução de projetos fundamentais para a modernização da matriz produtiva brasileira”, completa Ricardo Alban.