Segundo a CNI, a conclusão do tratado facilitaria exportação para novos parceiros e ampliaria de 8% para 37% o acesso preferencial às importações mundiais. Indústrias brasileiras e da UE acionam governos por acordo
A conclusão do Acordo de Associação Mercosul-União Europeia, em negociação há mais de 20 anos, pode inverter uma dinâmica desfavorável para o Brasil: a integração global tímida. De acordo com estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os atuais parceiros do Brasil possibilitam acesso preferencial a cerca de 8% das importações mundiais de bens. Com o acordo com a UE, esse percentual subiria para 37%, abrindo novos mercados e mais oportunidades de negócios.
O assunto é tratado com urgência. Nesta semana, 79 entidades da União Europeia e do Mercosul assinaram uma declaração a favor do avanço das negociações. O documento foi entregue aos governos brasileiros, argentinos, ao parlamento europeu e às autoridades do Uruguai, país que preside temporariamente o Mercosul.
Na carta, as entidades afirmam que é importante concluir e ratificar o acordo Mercosul-UE, uma vez que o tratado apoiará a resiliência da indústria, fortalecerá as cadeias de abastecimento, abrirá novos mercados para as empresas, proporcionando uma oferta estável de insumos.
“Em tempos marcados por turbulência geopolítica e inúmeras crises, as interrupções nas cadeias de abastecimento e as pressões sobre as indústrias se tornam cada vez mais frequentes. O aprofundamento de nossas relações comerciais é fundamental para assegurar a resiliência de nossas economias. O acordo UE-Mercosul nos permite avançar em nosso compromisso com um comércio livre, justo e sustentável”, diz trecho do documento.
Mais emprego, massa salarial e produção
De acordo com a declaração conjunta, o acordo Mercosul-UE cobrirá um quinto da economia global e contribuirá para o crescimento econômico e a criação de empregos, beneficiando 750 milhões de pessoas nas duas regiões. Juntos, os membros dos blocos representam uma parte significativa do comércio total de bens e serviços, que ultrapassou R$ 590 bilhões de reais em 2023 entre a UE e a região do Mercosul.
As expectativas para a economia brasileira com o acordo são grandes. Para se ter ideia, em 2023, cada R$ 1 bilhão exportado para a UE proporcionou a criação de 21,7 mil empregos, R$ 441,3 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção.
Em termos de comparação, as vendas brasileiras à China, principal parceiro comercial do Brasil, criaram 15,7 mil empregos, R$ 315,2 milhões em massa salarial e R$ 2,7 bilhões em produção por bilhão de reais exportados no mesmo período. Os dados são da Matriz Insumo-Produto, elaborado pela CNI com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que a implementação do acordo Mercosul-UE beneficiaria o Brasil com o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e dos investimentos. Até 2040, o PIB brasileiro poderia crescer cerca de US$ 9,3 bilhões (a preços constantes de 2023) e os investimentos no Brasil aumentariam 1,5%, comparado ao cenário atual sem a parceria.