A primeira planta-piloto do Brasil para estudos voltados à energia eólica offshore, concebida pelo SENAI-RN para instalação no Rio Grande do Norte, esteve no centro das discussões no encerramento do Brazil Windpower.
O evento, o maior do hemisfério sul dedicado à energia eólica e o maior da América Latina com foco em energia elétrica, teve a 15ª edição concluída nesta quinta-feira (24).
Estudos de caso no setor foram o foco do painel que reuniu, além do SENAI, representantes das empresas Ocean Winds e NVIDIA, com moderação de Roberta Cox, diretora de Políticas Brasil do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).
Dados para a tomada de decisão da instalação da planta-piloto e outros detalhes do projeto foram apresentados pelo diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello.
“Nós tivemos a oportunidade de discutir o ambiente de produção do Brasil para a geração de energia no offshore e as perspectivas de dados de avaliação deste ambiente, com custo, desempenho e velocidade, caracterizando que o país tem uma condição ímpar para a atividade também no mar”, disse Mello.
De acordo com o diretor, o objetivo do SENAI é a instalação de dois aerogeradores no mar, para a realização de estudos diversos.
“No começo de 2025 nós vamos lançar um edital de ‘projeto multicliente’ para os parceiros interessados poderem participar dessa investida conosco”, antecipou ele, no painel.
Planta
A planta-piloto é um sítio de testes, em condições reais de operação, para futuros aerogeradores que serão implantados no mar do Brasil. A expectativa do SENAI é que o início da operação ocorra em 2027.
Atualmente, o projeto está em fase de licenciamento ambiental no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Da maneira que foi concebido, as máquinas terão potência somada de 24,5 Megawatts (MW) e serão implantadas a 4,5 km de distância do Porto-Ilha de Areia Branca, principal ponto de escoamento do sal produzido no Brasil. O município está localizado a 330 km da capital, Natal.
A região escolhida é considerada rasa e, de acordo com estudos desenvolvidos pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), está distante de recifes de coral e das tradicionais zonas de pesca.
O sistema de implantação previsto se baseia em um modelo criado pela empresa espanhola Esteyco, que possibilita a montagem total das torres em terra e que elas sejam então levadas até o destino, no mar, com o apoio de rebocadores – ou seja, sem a necessidade de grandes estruturas de navios, atualmente escassas e caras no mundo. As máquinas são então posicionadas no fundo, sem perfuração.
“O SENAI-RN começou a estudar o ambiente de produção offshore ainda em 2012, quando praticamente não se falava disso”, disse Rodrigo Mello. Ele citou projetos pioneiros da instituição na área, como os Atlas eólicos produzidos para o Rio Grande do Norte e o mapeamento da Margem Equatorial Brasileira – o mais abrangente do país, atualmente em curso, com sete pontos de medição instalados ao longo da costa para levantamento e análise de dados medidos em campo.
O executivo também destacou a BRAVO – Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore, tecnologia desenvolvida de forma inédita para as condições de mar do Brasil.
O equipamento é resultado de um projeto bem-sucedido de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) do Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação da Petrobras (Cenpes) em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados (ISI-SE).
A marca de um ano de medições eólicas ininterruptas no mar de Areia Branca, no litoral do Rio Grande do Norte, foi alcançada na semana passada. Agora, o projeto se prepara para a fase 2.
Nesta quinta-feira, a Petrobras anunciou que investirá R$ 60 milhões, em uma nova etapa de testes e medições de ventos no mar, com o lançamento de cinco novas unidades da boia para coleta, monitoramento e avaliação de recursos eólicos offshore. A primeira destas unidades, segundo a companhia, começa a operar em dezembro e as demais até o fim de 2025.
Evento destacou projetos de educação do CTGAS-ER e pesquisa aplicada do ISI-ER
O Brazil Windpower foi realizado entre os dias 21 e 24 de outubro, com público estimado de aproximadamente 6 mil visitantes nesta edição. A temática geral do evento foi “Cenários para política de industrialização verde — O papel da indústria eólica”.
A programação destacou projetos de educação do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, e a pesquisa aplicada liderada pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER).
Também foi palco da celebração de um acordo de cooperação entre o Instituto e a chinesa Mingyang, maior fabricante de turbinas eólicas offshore do mundo.
A intenção, segundo as partes envolvidas, é a união de esforços e o compartilhamento de informações para a discussão de projetos e tecnologias visando o desenvolvimento de capacitação local para a atividade.
Estudos e outros trabalhos que envolvem desde a prospecção até o descomissionamento de aerogeradores instalados no mar estão contemplados na parceria, assim como avaliações da cadeia de suprimentos e de rotas tecnológicas e logísticas do setor.
Discussões
O primeiro dia do evento teve como foco discussões sobre “Política industrial, Gestão pública e Transição energética justa”.
Dentro desse contexto, a diretora do CTGAS-ER, Amora Vieira, participou do painel “Capacitação e Desenvolvimento de Mão de Obra para o Setor Eólico Brasileiro”, apresentando diversos projetos que impulsionam a qualificação profissional no mercado brasileiro e reconhecimentos que a instituição conquistou como frutos do trabalho.
No segundo dia, “Infraestrutura e Ambiente de Negócios em Favor da Economia Verde” foi a temática que norteou as discussões. Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN, participou do painel “Economia azul — Novos horizontes para negócios sustentáveis através do offshore”, e o coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento do ISI-ER, Antonio Medeiros, do painel “Medições Anemométricas Onshore e Offshore: Regras Novas e Próximos Passos”.
Projetos de educação desenvolvidos pelo SENAI também estiveram em exibição no espaço ESG Showcases do evento. Além disso, a instituição esteve presente nesta edição da feira com um estande concebido com móveis recicláveis e reutilizáveis.
Sustentabilidade
A composição rendeu ao SENAI-RN o reconhecimento de “estande nível prata”, do programa “Better Stands”, da Informa Markets – uma das promotoras do evento.
O selo considera o grau de sustentabilidade do projeto, em uma escala de classificação que pode variar entre os níveis bronze, prata e ouro, de acordo com uma série de critérios estabelecidos para a avaliação.
Projeto, montagem e desmontagem foram analisados. O objetivo é estimular a redução de resíduos gerados no evento e o consequente impacto ambiental.
A Maersk Training, uma das maiores empresas em treinamentos para a atividade eólica no mundo, fez participação conjunta com o SENAI no estande.
O espaço de 42 metros quadrados, localizado na entrada do evento, exibiu projetos como a BRAVO, em TVs e, ainda, por meio de uma imersão com óculos de realidade aumentada, que levam os visitantes à região de Areia Branca, onde o equipamento realiza medições, no mar.
Protagonismo
“O SENAI tem se destacado como protagonista no cenário das energias renováveis, da transição energética e da sustentabilidade e no Brazil Windpower não foi diferente”, disse Rodrigo Mello. “Estiveram conosco as principais ICTs (Instituições Científicas e Tecnológicas) do país, universidades, órgãos internacionais, empresas que lideram a transição energética nacional e instituições como o Instituto Brasileiro do Petróleo (IPT), o GWEC e a própria ABEEólica”, complementou o diretor.
A relação de visitantes no estande da instituição inclui, ainda, representantes do Sistema Indústria, entre eles, os diretores regionais do SENAI da Bahia, Evandro Mazo, e do Piauí, Roger Jacob, o presidente do Sindicato das Indústrias de Recicláveis e Descartáveis do Rio Grande do Norte e diretor 2º Secretário da Federação das Indústrias do Estado (FIERN), Etelvino Patrício, o presidente do Sindicato da Indústria de Instalação e Manutenção de Redes, Equipamentos e Sistemas de Telecomunicações do RN (Sindimest), Alberto Serejo, e o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte, Sérgio Azevedo.
“Entendemos que nossa participação foi bastante relevante, com reuniões importantes com diversas empresas para condução de projetos e discussão de novas possibilidades. Nós interagimos com os principais atores do setor”, observou Rodrigo Mello.
O Brazil Windpower é uma realização da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias), com o GWEC (Global Wind Energy Council) e o Grupo CanalEnergia / Informa Markets.
Texto: Renata Moura
Fotos: Divulgação SENAI-RN