Profissionais de educação do SENAI do Rio Grande do Norte, do IFRN e das escolas estaduais Edgar Barbosa e Nestor Lima se depararam, na semana passada, com um convite à ação que buscava saber: “Que soluções vocês propõem para superar os desafios relacionados à promoção de mulheres nos cursos profissionalizantes de energias renováveis?”.
O exercício, parte do primeiro minicurso de sensibilização “Promover a presença de mulheres na área de energias renováveis”, foi realizado em Natal pela Ação Coletiva Interligadas e está inserido em um conjunto de estratégias para estimular mais igualdade e equidade de gênero no setor, no qual até 42 milhões de empregos são previstos em escala global, até 2050.
A expectativa é alavancar a participação feminina, em um cenário em que os homens ainda predominam em salas de aula e no mercado de trabalho com foco em indústrias como energia eólica e solar.
“A gente sabe que há demanda das empresas para formação de mulheres. O SENAI tem atuado nessa entrega e a gente percebe que esse é um movimento sem volta”, diz Amora Vieira, assessora de Mercado e Projetos do SENAI-RN, que lidera ações relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na instituição.
“O que nós queremos é entregar à sociedade a possibilidade de ter mais mulheres e meninas nas salas de aula e trabalhando na área. Nós temos metas que vão impulsionar isso e fazer com que daqui a um ou dois anos a gente comece a perceber com outro olhar à participação feminina nessa atividade que só cresce”.
Interligadas
O Interligadas (@interligadas_er, no Instagram) foi lançado este ano no Brasil e é realizado, de forma piloto no país, no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN. A Ação é iniciativa da Rede de Mulheres na Energia Solar (MESol), em conjunto com o Projeto Profissionais do Futuro – desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC) e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da agência alemã GIZ.
Uma das metas da iniciativa é elevar de 7% para 20% o número de mulheres em cursos de formação profissional técnica – a porta de entrada profissional para o setor de energia – nos SENAIs do país e nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs).
“A gente quer subir esse degrau em um ano e meio”, diz a assessora técnica em Energia da GIZ, Caroline Dutra. “Temos um cenário de expansão, com empresas querendo contratar mulheres, com escolas oferecendo diversos cursos de energia solar e eólica, e a gente está aqui para debater os desafios, para provocar reflexão sobre o que a gente está fazendo e pode fazer melhor, e também se existem barreiras, e como superá-las, para que meninas e mulheres também possam aproveitar essas oportunidades”.
Alcançar ao menos 20% de participação feminina nesses cursos “significa crescer três vezes o que a gente tem hoje e isso só vai acontecer se cada um de nós assumir responsabilidades nessa direção, de maneira voluntária”, disse, durante o minicurso, a diretora da consultoria MaisArgumento e consultora sênior da GIZ, Fabiana Dias.
Sensibilização
O minicurso que trouxe esse cenário para debate foi realizado no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN, em Natal, complexo que sedia o CTGAS-ER, referência do SENAI no Brasil em formação profissional para as indústrias de energias renováveis e do gás, e o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), principal centro de pesquisa aplicada, desenvolvimento e inovação do SENAI no país com foco em energia eólica, solar e sustentabilidade, incluindo novas tecnologias como o hidrogênio verde.
Profissionais que atuam no atendimento ao público, em áreas como secretaria escolar, equipes pedagógicas, instrutores/as de educação do CTGAS-ER, de outros Centros de Educação e Tecnologias do SENAI – Clovis Motta (Voltado às indústrias de alimentos, vestuário e moda); CETIB (cursos diversos para a indústria) e CETAB (vestuário, construção e outros) – além de escolas convidadas participaram da programação, em que foram abordadas práticas, contextos e transformações possíveis.
Questões como “Quando olho para minha prática profissional, sinto que minhas atividades e meu jeito de trabalhar são inspiradores para os alunos e as alunas da escola onde atuo?”, “Como você lida com a diversidade?” e “Como você enxerga as energias renováveis como campo de trabalho para mulheres?” estiveram entre as várias debatidas.
Soluções
No mapa de soluções que os grupos começaram a construir surgiram desde estratégias para combater possíveis preconceitos até a identificação de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) que precisam ser adaptados aos corpos femininos. A linguagem também foi entendida como recurso que pode ser usado a favor desse processo, ou contra.
Glaucia Aragão, uma das responsáveis pelo minicurso, explicou que textos em que prevalecem termos masculinos ou imagens que retratam somente homens estudando ou trabalhando em áreas tecnológicas podem contribuir para, em vez de atrair, repelir as mulheres. A comunicação, orientou ela, precisa ser inclusiva.
“Mudar uma palavra, mudar um artigo no texto pode fazer a diferença para todas as pessoas se sentirem incluídas”, disse Glaucia, propondo um exercício em que as escolas foram estimuladas a refazer um anúncio fictício em que um “curso de instalador de paineis fotovoltaicos” era apresentado como “oportunidade para homens que buscam uma profissão desafiadora!”. Entre as sugestões aprovadas pela professora estavam se referir ao curso como de “instalação de sistemas fotovoltaicos” como “oportunidade para pessoas…”.
“Há muitas possibilidades de promover mudanças para não privar mulheres das oportunidades”, diz Caroline Dutra, da GIZ. Amora Vieira, do SENAI, frisa que a expectativa é estimular a equipe a, cada vez mais, fazer o acolhimento e o direcionamento adequado para todas as pessoas, incluindo mulheres e meninas interessadas em se qualificar.
O plano de condução do minicurso de sensibilização, assim como o Manual Interligadas na Escola, desenvolvidos pelo projeto Interligadas, será publicado online no final do próximo ano, como inspiração para outras instituições que quiserem utilizá-los.
Janaina Guedes, analista de negócios do CTGAS-ER e uma das participantes nesta edição, exemplifica porque mudanças no atual cenário são necessárias: “Chegam meninas querendo saber quais são os cursos para mulheres ou, às vezes, os pais nem deixam falar por si”.
Igor Bezerra, analista administrativo que atua na Secretaria Escolar do Centro, afirma que a conscientização é chave para transformações. “Não é porque é um curso de costura ou de alimentos que vai ser só para mulher ou porque é um curso tecnológico que vai ser só para homem. A qualificação profissional está disponível para ambos e é preciso trazer isso de forma consciente, quebrar o machismo que ainda existe na sociedade, de modo a absorver também as mulheres, porque elas podem, têm direito de estar presente e de participar”.
Veja, na galeria a seguir, mais imagens do Minicurso:
Saiba Mais – Mais Impulsos
Entre as ações do Interligadas em Natal na semana passada estiveram também a apresentação oficial do projeto no Fórum de Energias Renováveis: https://www.fiern.org.br/meninas-em-acao-reune-inspiracoes-desafios-e-bolsas-de-estudo-em-natal-para-estimular-estudantes-ingressar-no-setor-de-energia/
E o “Meninas em Ação”, com a participação de alunas de escolas públicas de Natal e do IFRN: https://www.fiern.org.br/ctgas-er-sedia-meninas-em-acao-estimulos-e-desafios-que-abrem-portas-estudantes-no-setor-de-energia/